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10 ago

A atividade física não serve para perder peso

Definitivamente, não é possível entender de forma mais profunda o corpo humano sem unir o conhecimento de diversas disciplinas complementares.

Recentemente li uma pesquisa bem interessante de Herman Pontzer, professor de antropologia da Universidade de Duke (EUA). Ele observou o gasto calórico de macacos selvagens e, para sua surpresa, esse gasto era equivalente ao de um aposentado que mora no Caribe, segundo suas próprias palavras. No entanto, o peso corporal desses macacos é saudável e estável, apresentando um baixíssimo índice de gordura corporal.

Pontzer ainda notou que todos os tipos de macacos, grandes ou pequenos, passam dez horas por dia descansando, catando insetos nos pelos e comendo, antes de dormir por nove ou dez horas, à noite. E quanto às subidas nas árvores e os exercícios físicos? Ele descobriu que os macacos escalam cerca de 100 metros por dia, o que proporciona um gasto calórico equivalente a uma caminhada de 1,5 km.

Se a atividade física não colabora de forma decisiva no emagrecimento, como sustenta o professor Herman, para que ela serve então? Vamos por partes!

 

CUIDADO COM O “CANTO DA SEREIA” DO TREINAMENTO FÍSICO

A internet potencializou um fenômeno nocivo e perigoso, dando voz e visibilidade a qualquer aventureiro, permitindo a propagação de mentiras e mitos que vão contra a nossa saúde corporal.

Recentemente, fiquei bastante assustado ao navegar no YouTube e assistir a alguns vídeos patrocinados que afirmavam, de uma forma científica bastante convincente, que para perder peso você deveria esquecer o treinamento cardiovascular ou qualquer outra forma de atividade física. Deveria esquecer também a alimentação saudável ou qualquer outra coisa. Agora, basta tomar injeções de hormônios e outros coquetéis, incluindo antidepressivos e outras drogas, e você irá atingir o corpo dos sonhos, como diz o mercado fitness.

Ao contrário do que o ensinaram, o treinamento cardiovascular é infinitamente mais importante que o treinamento muscular, invertendo a pirâmide do treinamento, como ela é praticada atualmente nas academias.

É preciso acrescentar algo importante: não acredite em pessoas que prometam resultados milagrosos ou prometam acelerar a perda de peso por meio de exercícios físicos, suplementos, dietas radicais ou qualquer outra coisa.

Cuidado com o “canto da sereia” do treinamento físico, cuidado com o “caça níquel” sedutor do mercado do emagrecimento! De cara, essa seria a melhor maneira de separar o “joio do trigo”, os oportunistas dos profissionais sérios e competentes.

 

O QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA PERDER PESO RESPEITANDO O SEU CORPO

O primeiro ponto é que perder peso depende de diversos fatores, como ter boas noites de sono, controle do estresse e da ansiedade, estilo de vida, fatores psíquicos, emocionais, alimentação equilibrada, entre muitos outros. Ou seja, não é possível atacar um fenômeno extremamente complexo e multifatorial caso essa abordagem não seja multidisciplinar e terapêutica.

Segundo ponto, colaborar na perda de peso é uma consequência natural de um treinamento saudável e eficiente, mas não deveria ser o foco, porque, nem de longe, é o principal benefício dessa atividade. Se pudéssemos fazer uma lista, a perda de peso apareceria apenas nas últimas colocações dos benefícios que o exercício traz a você.

Veja a conclusão final do estudo com os macacos citado no início do texto:

“Todas as evidências atuais indicam um outro modo de enxergar a atividade física. Desde a década de 1980, o exercício é vendido como uma forma de perder peso, mas o exercício não é opcional, ele é essencial a todo o nosso sistema orgânico. A perda de peso é provavelmente o único benefício à saúde que ele não consegue gerar de uma forma efetiva.

A nossa herança evolutiva moldou nosso organismo para exigir uma atividade física diária e, consequentemente, o exercício não faz nosso corpo acelerar seu funcionamento tanto quanto o faz funcionarem melhor.

Diversas pesquisas mostram que a atividade física tem pouco efeito no gasto energético diário – caçadores coletores, como os Hadza, queimam o mesmo número de calorias diárias que um ocidental sedentário.

No entanto, o exercício regula a maneira como o nosso corpo gasta energia e coordena processos extremamente vitais ao ser humano, em todos os setores, desde o fortalecimento do sistema imunológico, passando pela diminuição do cortisol, reduzindo a inflação crônica, prevenindo as principais doenças modernas, as cardiovasculares, o diabetes e o câncer, além de produzir enzimas que ajudam a limpar a gordura do sangue circulante, entre centenas de outros mecanismos regulatórios.

Não é de admirar que populações como os Hadza não desenvolvam doenças cardíacas, diabetes, ou quaisquer outros males que afetam as nações industrializadas.

A lição de grupos como os Hadza é que a quantidade de exercício importa mais que a intensidade. Eles se mexem da aurora ao começo da noite, totalizando mais de duas horas de atividade por dia, a maior parte na forma de caminhada.

Podemos emular esses hábitos ao caminhar, pedalar, subir escadas, encontrando formas de trabalhar e ficar mais ativo, que nos façam diminuir o tempo sentado.

Uma pesquisa recente, feita com funcionários do correio de Glasgow, mostrou que funcionários que trabalham mais em pé, ficando mais ativos, tinham uma saúde melhor e nenhuma doença metabólica.” (Herman Pontzer)

 

O QUE VEM RÁPIDO, VAI EMBORA RÁPIDO!

Para finalizar, na minha opinião, a atividade física tem um papel determinante na manutenção e na perda de peso corporal, sendo o mais potente ansiolítico existente no mercado. O que os cientistas ainda não perceberam é que a atividade física tem uma ação indireta sobre a perda de peso, atuando como um moderador do apetite e da qualidade do sono, por exemplo.

Porém, ela deveria ser praticada de uma forma moderada, orgânica e natural, sem pressa, tirando o foco nos resultados estéticos.

O problema de colocar o foco na estética é que, além de desvirtuar o processo, estimulando exageros e agressões ao seu corpo que você não deveria fazer, caso os resultados não apareçam logo, conforme o prometido na propaganda, o aluno desiste, abrindo mão daquilo que, no fim, seria o mais importante: regular todo o seu sistema orgânico, incluindo o peso corporal.

Não coloque o carro na frente dos bois: busque saúde, e, como consequência, o seu peso corporal retornará ao seu equilíbrio, devagar, sem pressa, naturalmente. A recomendação da OMS é perder no máximo 1kg por mês, de forma realista e sustentável.

Repito, de uma vez por todas: não existe uma solução milagrosa que vai acelerar a perda de peso corporal – e, se um dia inventarem tal medicamento, não compre, pois, com certeza, ele vai causar graves efeitos colaterais ao seu organismo, indo contra todas as determinações biológicas que moldaram a evolução humana durante milhões de anos.

O seu corpo não foi programado para perder peso de forma acelerada, logo, ele irá evitar isso a todo custo.

Você até pode perder peso com rapidez, mas isso não será sustentável no médio e longo prazo. Tudo que vem rápido vai embora rápido!

Já está provado, 95% das pessoas que fazem dietas radicais voltam ao peso anterior ou ganham ainda mais peso no prazo de um ano. Ou seja, perder peso rapidamente é provavelmente a forma mais ineficiente possível de manter-se magro.

O pior é que não adianta nada te falar isso, a nossa cultura é baseada na pressa e no imediatismo, sustentando indústrias bilionárias direcionadas a explorar esse nicho de mercado, vendendo soluções nocivas à saúde pública.

Assim como uma lâmpada mágica, o cliente pede aquilo que é impossível. Rapidamente, aproveitando a deixa, o mercado acena que descobriu uma nova forma de entregar essa promessa, desviando o cliente do caminho da saúde. Dessa forma, a obesidade é alimentada nas duas pontas: pelos hábitos modernos e, indiretamente, pela “indústria da saúde”, gerando um círculo vicioso perverso que se auto-alimenta.

Qual vai ser a próxima moda de dieta ou treinamento a te seduzir com resultados rápidos e milagrosos? Quanto tempo ainda as pessoas vão insistir nesse beco sem saída, perpetuando o efeito sanfona?

O equilíbrio está no meio, não nos extremos.

O mercado só muda se você mudar!

 


 

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Início em 26/08/2023 | Vagas Limitadas