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17 out

Errar mais, o segredo para ir mais longe

Errar não é humano, errar é parte integrante da natureza. Dos seres microscópicos e celulares aos maiores mamíferos, todos erram, a diferença é que nós atribuímos a esse fenômeno a qualidade de algo negativo. Os animais não têm medo de errar e, por isso mesmo, repetem uma ação necessária, insistentemente, até que consigam realizá-la.
Imagine um leão na selva africana que, de repente, após diversas tentativas infrutíferas, desistisse de correr atrás de um antílope. Ele, então, se sentaria no chão, desanimado e extremamente triste. Nessa hora, outro leão se aproximaria e lhe indicaria um psiquiatra e um antidepressivo. Olhando por esse ângulo, a depressão causada pelo fracasso parece, um tanto quanto, sem sentido, não é?
Muitas vezes, ao nos compararmos aos animais, percebemos o quanto a nossa inteligência parece mais um fardo do que propriamente uma vantagem. É a tal perda da inocência tão citada nos textos bíblicos.

Sob outra perspectiva, podemos concluir que não existe erro na natureza. O erro é o nome que damos aquilo que não aconteceu conforme esperávamos, imaginávamos, gostaríamos. Sempre dentro de uma maneira específica de idealizar o resultado. O “erro” de um leão pode ser o “acerto” de um antílope. Naquele dia o antílope foi mais esperto e ligeiro, apenas isso. “É o que tinha que ser”, esse é o mantra que precisamos internalizar, nem tudo está sob o nosso controle. Pensar a partir dessa perspectiva abre os caminhos e deixa a vida leve e fluida. Dessa forma, você para de “dar murro em ponta de faca” e começa a enxergar as oportunidades que estavam a sua disposição, sem que você pudesse nota-las. Idealizar o caminho é uma”tapa-olho de burro” que limita a sua visão;

Estudos realizados com crianças mostraram que aquelas que não dão muita importância ao fato de errarem, aprendem em média cinco vezes mais rápido em comparação as outras crianças.
Qual o fator que leva essas crianças a não darem tanta atenção ao erro? Elas estão se divertindo e extremamente presentes naquilo que fazem. Aqui, se encontra uma grande lição: quando o valor intrínseco daquilo que fazemos nos apaixona e nos diverte, a nossa criatividade e resiliência podem aflorar, o que nos permite aprender com mais rapidez e competência. Sem diversão não tem solução!
Falando em não se abater, me lembro, como se fosse hoje, de um diálogo entre o meu pai e o Ayrton Senna, no CEPUSP, o Ayrton estava desanimado porque havia cometido um erro e batido o carro quando já estava com o segundo lugar garantido. Meu pai ressaltou que errar era uma consequência natural da sua vontade de expandir os seus limites e que o mais sensato seria virar a página e olhar para frente.
Ele disse ao Ayrton: – Se você não se arriscasse tanto, iria errar menos, mas também não iria se diferenciar da média. O que você acha que as pessoas vão lembrar no futuro, de erros bobos ou das suas vitórias sensacionais? Deixa isso para lá! Pelo jeito, ele estava certo.
Em meu trabalho com atletas, vejo o quanto esse tal “E se..” pode ser aflitivo. “E se eu tivesse feito isso ao invés daquilo? E se eu tivesse mantido a calma naquela hora crucial?” São tantas as angústias que é normal os atletas ficarem se lamentando internamente e se autoflagelando após uma derrota amarga.
Quando nos acalmamos, percebemos que fizemos o que foi possível naquela hora e que não será produtivo seguir atrelado ao erro, valorizando demais os nossos tombos. Nessa hora, só resta se levantar, sacudir a poeira e seguir, com a mesma motivação e fé. Quem disse que seria fácil?
Bom, achar que existe um caminho rápido e garantido, um caminho ideal que vai nos levar ao sucesso e à felicidade é um mal do nosso tempo. Como as redes sociais ajudam a construir um mundo de “faz de conta” em nosso imaginário, em que as pessoas “bem sucedidas” são modelos de felicidade, começamos a acreditar que existam fórmulas para se chegar “lá” (ninguém vai te contar que esse “lá” é um ideal fantasioso, é apenas a cenoura na frente do coelho).
Ao seguir essas fórmulas garantidas de sucesso, aos poucos, os mais jovens irão perceber que esse caminho é um pouco mais espinhoso do que lhes havia sido prometido. De qualquer forma, escolher o caminho mais fácil torna-se, com o tempo, o caminho mais difícil. Escolher uma profissão baseando-se apenas na remuneração financeira, sem um sentido de propósito ou de paixão genuínos, pode ser ingrato e infrutífero.
Mas, voltando ao assunto, como se abrir mais ao erro, sem que isso seja negativo? Sugiro a mesma estratégia adotada pelos grandes atletas: tatear e expandir, com todo cuidado e paciência, os seus limites e, assim, sair do lugar comum e se abrir a novas experiências e aprendizados.
Afinal, como se constrói esse pavor ao erro em nossa psique? Isso vem lá da infância, quando os nossos pais ou professores nos repreendiam de forma muito agressiva, instalando, aos poucos, um trauma em relação a essa experiência. Isso não quer dizer que não possamos corrigir ou educar nossos filhos, mas sim, que seria importante que isso ocorresse através de uma abordagem menos traumática e agressiva.
Os filhos não precisam ser, necessariamente, um “saco de pancadas” no qual extravasamos nossas angústias e frustrações ao final do dia. Aliás, tratar o erro alheio com mais cuidado e tolerância é um exercício transformador, quem é intolerante e impiedoso com os outros, tende a ser intolerante e rígido consigo mesmo.
Na vida, é sempre assim, o que está fora, também está dentro. Aquilo que mais nos incomoda no outro, revela sombras da nossa própria personalidade que não podemos admitir e, por isso, a reprimimos e projetamos sobre uma outra pessoa. A forma como você reage a uma situação diz muito mais sobre você do que sobre a questão em si.
Porque o erro leva à desistência? Na maioria das vezes, o que ocorre é que não desenvolvemos a resiliência e a fé necessárias para respeitarmos e suportarmos a maturação e o tempo para concretizar nossos objetivos. Então, qual o segredo de toda essa resiliência? Novamente, viver com paixão e propósito, isso servirá de combustível para seguir em frente e virar a página com mais rapidez.
Por isso, só lhe recomendo uma coisa, que você erre muito, erre seguidamente, permita-se errar e, mesmo assim, não desista. Em relação ao aprendizado, o erro é mais importante que o acerto. Quem não tenta, não erra, mas também não aprende. A função do erro não é nos fazer parar, e sim, nos fazer avançar, podendo, assim, tatear e expandir os limites estabelecidos por nós mesmos. É o que nos permite romper o “cercadinho” da segurança, do controle e da previsibilidade no qual nos refugiamos e a partir do qual, passamos a evitar qualquer forma de risco. Buscamos um lugar para ancorar, a satisfação da segurança, mesmo que ilusória. Temos medo de mudar, mas o risco maior é, exatamente, não mudar, não seguir o fluxo da vida e ceder ao conforto e á estagnação.
Quem não olha para os seus erros, não cresce. O erro é a grande alavanca do auto aperfeiçoamento e esse nunca cessa, é para a vida inteira.