CHAVE 49

Esta é a ultima chave que complementa o conteúdo do Livro “O músculo da alma”. Ela faz parte das ultimas chaves perdidas conforme você verá com mais detalhes na quarenta e sete.
 
“O diletante – do italiano dilettante (do verbo dilettare : deleitar-se com) é aquele que se deleita com alguma coisa. O que caracteriza o diletante é o seu deleite com a natureza sempre preliminar de uma compreensão que jamais se completa. Afinal, esta é a única atitude adequada diante das figuras que nos chegam de um passado remoto. São os perenes oráculos da vida. Precisam ser interrogados e consultados mais uma vez. Pois os modelos de vida que tecemos hoje não são os mesmos de qualquer outro dia.
Ao consultar este oraculo, nossa tarefa principal é aprender, não tanto com o que se diz que eles disseram, mas como aborda-los, despertar neles uma fala renovada e compreende-la. Frente a tal proposito, devemos todos continuar sendo diletantes, queiramos ou não.
Alguns de nós – especialistas com formação erudita – inclinamo-nos a privilegiar certos métodos de interpretação bem definidos – e, portanto, limitados. Outros interpretes se colocam como zelosos campeões dessa ou daquela linha tradicional, considerando-a a única chave verdadeira. Com essas convicções inflexíveis excluímo-nos da infinidade de inspirações que vivem no interior das formas simbólicas. Assim, mesmo os interpretes metódicos não são mais do que amateurs, afinal. Embora, como cientistas, confiem em métodos estritamente filológicos, históricos e comparativos, continuam sendo, em última análise, meros principiantes na tarefa infinita de sondar o escuro lago do significado. O deleite libera em nós a intuição criativa, e permite que está se movimente para a vida. Permite a nós mesmos dar vazão a qualquer sucessão de reações criativas que se apresente a nossa compreensão imaginativa. Com certeza, jamais poderemos exaurir sua profundidade – ninguém poderá. E um gole da água fresca da vida, sorvido na palma da mão, é mais doce que um reservatório inteiro e dogmas encanados e garantidos.
“A abundancia é escavada da abundância, e ainda assim a abundancia subsiste. ”( Upanishads)
A plenitude do nosso universo procede de uma fonte superabundante de substancia transcendente e energia potencial. A abundancia do nosso planeta é retirada desta fonte. Não importa quão grande seja a doação vertida, a abundancia subsiste. Todos os símbolos verdadeiros, todas as imagens míticas referem-se a esta ideia. A cada gole nela bebido por nossa compreensão imaginativa, um universo de significados é desvelado a mente. Não importa qual seja a leitura acessível a nossa visão atual, ela não pode ser final. Pode ser apenas um vislumbre preliminar. Devemos considera-la como inspiração e estimulo, não como uma conclusão definitiva que impeça uma nova compreensão e diferentes formas de abordagens.
O verdadeiro dilettante estará sempre pronto a recomeçar. Será nele que as fantásticas sementes do passado deitarão raízes e crescerão maravilhosamente.”
( Heinrich Zimmer, mitólogo e indólogo )