CHAVE 47

Época de mudanças ou mudança de época?

Texto escrito por minha amiga Sabina Deweik, pioneira em cool hunting (pesquisa de tendências) no Brasil, pesquisadora de comportamento, especialista em inovação e coach ontológica.

O mundo está vivendo um grande período de transição no qual antigos valores e estruturas já não dão mais conta do fluxo da vida. Nas famílias, nos indivíduos, na política, nas empresas e organizações, no significado do que é ter sucesso nos dias de hoje, tudo vêm sendo questionado e desconstruído. “Estamos em um estado de interregno, entre uma etapa em que tínhamos certezas e outra em que a velha forma de atuar já não funciona. Não sabemos o que vai substituir isso. As certezas foram abolidas”, diz o sociólogo Zygmunt Bauman.

Nós herdamos um modelo da Revolução Industrial. Um modelo que primou pelo individualismo, pela produção em massa, pelo racionalismo, pelo avanço a qualquer custo do homem. De lá para cá, a ideia de competitividade, resultado, foco e individualidade só se intensificou. Desde então, a relação das pessoas com o ato de consumir vem se intensificando exponencialmente, bem como a ideia de que trabalhar e ser feliz são departamentos distintos. O homem chegou a acreditar no lema “Você é o que você consome”. Status, ostentação, visibilidade, marca, imagem, principalmente a partir da década de 1980, passaram as ser valores vigentes.

Diante de tais fatos, bem como da grande crise social, econômica e ambiental que vivemos, passando pelo problema dos refugiados, terrorismo, o aparecimento das chamadas doenças modernas, como síndrome do pânico, ansiedade e distúrbios alimentares, até às grandes mudanças climáticas advindas da poluição, destruição de habitats, superpopulação humana e exploração dos recursos naturais, o homem começa a se dar conta de que algo está ruindo neste sistema.

Alguns inovadores começam a nadar contra a corrente e apontam sobre os males desses excessos. Mais recentemente, nos anos 2010, o boom da economia compartilhada ajudou a vislumbrar alternativas para os moldes engessados do capitalismo, trazendo ao cotidiano das pessoas mais abertura para o despertar de uma nova consciência.

O sociólogo Jean Baudrillard defende que o consumo se dá quando uma relação entre o indivíduo e o significado do objeto é estabelecida, ou seja, é o signo do qual o objeto se reveste que o torna consumível. É aí que nasce a ilusão do “objeto de desejo”, algo carregado de valores e signos que é oferecido ao ser contemporâneo como capaz de suprir suas carências internas. No entanto, ao perceber que o objeto não pode preencher esse vazio, ele permanece frustrado, gerando uma doentia compulsão pelo preenchimento da realidade ausente. É um ciclo infinito que jamais se concretiza, justamente por não ter limites.

Historicamente, períodos de transição ou de crise, como o que vivemos hoje, são favoráveis à inovação e abrem as portas para a evolução da criatividade humana. Afinal, não é no conformismo que surgem as mudanças. Mudar exige se deparar com a inconformidade, com o questionamento, com mudar o status quo. É dessa força que veremos surgir, nos próximos anos, novos comportamentos rumo a um futuro possível.

Alguns indícios apontam para essa nova direção. Podemos prever transformações profundas em todos os sistemas que ancoram a economia e o mundo, hoje. As redes sociais mudaram a forma como as pessoas protestam e instauraram a exigência de transparência.

Por conta de novas gerações que nasceram na era digital, a educação como conhecemos hoje também está com os dias contados. O objetivo da educação não será ensinar coisas, porque as coisas já estão na internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. A educação será um facilitador para ensinar a pensar e criar na criança essa curiosidade. Quanto ao modelo de trabalho de oito horas por dia dentro das empresas, esse, também, se tornará cada vez mais distante, dando lugar a novas dinâmicas de espaço e novas configurações de emprego. Dentro dessa lógica, precisaremos nos reinventar todos os dias, reinventar nossas carreiras e nossos modelos de negócio. O lucro, antes prioritariamente financeiro, passa a ser reavaliado por ângulos que ressignificam o conceito de sucesso. Alteram-se os critérios para o que seria uma pessoa ou um negócio bem sucedido, colocando em pauta outras motivações compensatórias: realização de propósito, desenvolvimento pessoal, satisfação criativa.

A diminuição do consumismo, a internet sendo utilizada para descentralizar o poder de empresas, governos e instituições, o movimento crescente de pessoas produzindo seus próprios bens ou comprando de pequenos produtores, a colaboração, o compartilhamento e o crescimento da indústria criativa são alguns dos paradigmas que têm sustentado a nova economia. Sem falar na emergência de uma nova consciência coletiva, desde o movimento biker, que faz crescer o desinteresse dos jovens por ter um carro, até a economia colaborativa, com modelos de negócios como o Uber e o Airbnb, além do crowdfunding, modelo que permite que ideias inovadoras sejam implementadas a partir de um financiamento coletivo, ou até mesmo o surgimento de formas coletivas de trabalhar e viver, como o co-working e o co-housing.

Urge sabermos de onde vêm os alimentos que comemos, cresce o consumo de orgânicos, aparecem projetos de upcycling, na gastronomia fala-se de slowfood, no consumo fala-se de lowsumerism (baixo consumo), o consumidor quer saber se o que consumimos respeita um ciclo sustentável e, por isso, cresce também o ato da compra como um ato social. É fundamental compreender os novos valores para entrar em sintonia com esse novo mundo.

Vale dizer que, na década de 1990, o advento da internet e das novas tecnologias impulsionou ainda mais a mudança comportamental. Nascia, naquele momento, uma nova geração, que presenciou de perto novidades do mundo digital nunca antes vistas. Nasciam os e-mails, as ferramentas de busca e, principalmente, a possibilidade de interação com outras pessoas sem sair de casa. Formava-se ali a chamada Geração Y, ou Millennials, uma geração mais autocentrada e egoísta, porém, de maneira antagônica, adepta do compartilhamento de informações pelas redes sociais. Rapidez, instantaneidade, flexibilidade e não linearidade de pensamento caracterizam esse grupo, que passou a influenciar outras gerações com suas habilidades e sua vontade de trabalhar por projetos com propósito. Essa geração está contestando o mundo corporativo e ressignificando o que é trabalho, família, sucesso, profissão, relações.

Raymond Kurzweil, inventor, futurista e idealizador da Singularity University aponta que a evolução tecnológica acontece em um ritmo exponencial e, uma vez que cada tecnologia serve de suporte para o desenvolvimento da próxima, chegará o momento em que atravessaremos uma fronteira em que a velocidade do avanço tecnológico será maior do que a capacidade dos seres humanos de acompanhar a sua mudança. Estudos apontam que 40% das empresas não sobreviverão à revolução digital, o número de funcionários das empresas será cada vez menor e, em 2030, existirá uma empresa para cada 10 pessoas. Vivemos um momento de transição e, entender para onde o mundo está caminhando, tornou-se premissa para continuar a caminhada.

Inicia-se uma nova revolução, batizada pela revista Time como mindful revolution ou a revolução do autoconhecimento. O ser humano começa a se voltar para a essência depois de muito tempo de exterioridade. Com a popularização de técnicas orientais milenares, como yoga e meditação, a valorização do silêncio, a ideia de espiritualidade desassociada do esoterismo ou do misticismo, o digital detox, o fim da glamourização do workaholic, começamos a vislumbrar um futuro diferente. A mudança é radical. E, como disse sabiamente Frei Betto: “Nossos avós viveram uma época de mudanças, nós estamos vivendo uma mudança de época.”

A tríplice Ilusão

Este livro se inicia falando de uma santíssima trindade ligada a saúde e agora ao final ele termina falando de uma outra trindade. Pincei este trecho que abre o belo livro do filosofo e economista Eduardo Giannetti, chamado “Trópicos Utópicos”:
“O tempo decanta o passado. O que hoje esta patente, ontem mal se entrevia. O mundo moderno nasceu e evoluiu embalado por três ilusões poderosas: a de que o pensamento científico permitiria gradualmente banir o mistério do mundo e assim elucidar a condição humana e o sentido da vida; a ilusão de que o projeto de explorar e submeter a natureza ao controle da tecnologia poderia prosseguir indefinidamente sem atiçar o seu contrario – a ameaça de um terrível descontrole das bases naturais da vida. Por ultimo, a ilusão de que o avanço do processo civilizatório promoveria o aprimoramento ético e intelectual da humanidade, tornando nossas vidas mais felizes, plenas e dignas de serem vividas. Se é verdade que uma era termina quando as suas ilusões fundadoras estão exauridas, então o veredicto é claro: a era moderna caducou.

As chaves perdidas

Quando terminei este livro, originalmente ele continha 49 chaves.
Refletindo, percebi que na época eu estava com 49 anos, o que me pareceu uma grande coincidência.
Depois pesquisando com mais cuidado, descobri que este numero é bastante simbólico. Para a Antroposofia ele representa o sétimo setênio (= 7×7), este período representa o inicio de um ciclo de desenvolvimento de nossa natureza espiritual, de maturidade e entendimento do nosso propósito.
Como estas chaves não se encaixaram bem no livro, na ultima hora foram excluídas. Resolvi, então resgata-las e esconde-las em meu site.
Esta é a ultima brincadeira proposta, veja se consegue acha-las, não esta difícil.
A chave 49 é a minha preferida entre todas as outras chaves..É um texto perdido, lindo e profundo, escrito por Heinrich Zimmer, um grande mitólogo.
Ela traduz e explica este livro e a minha abordagem do conhecimento de uma forma magica.