CHAVE 38

Como a farra do consumo criou a obsolescência programada? Aqui, a chave para a maior revolução das próximas décadas.

Revolução ambiental

A mídia estimula a sensação de falta, vazio e incompletude, porque a insatisfação gera mais consumo. Será? Isso é uma bobagem, pois não deixamos de consumir quando nos sentimos poderosos e confiantes, apenas ficamos mais seletivos. Mas, afinal, quem realmente precisa dessa grande quantidade de produtos supérfluos que são vendidos por aí?

O maior problema da humanidade a ser resolvido na atualidade é exatamente como diminuir o consumo e equalizar o mal que estamos fazendo à nossa saúde e ao nosso planeta com o excesso de alimentos industrializados, lixo, poluição ambiental e todos os demais produtos descartáveis. O capitalismo, da forma como nós conhecemos, não é mais viável há muitas décadas. No entanto, existe uma enorme dificuldade de mudança e correção de rumo. Essa dificuldade decorre das diversas indústrias e lobbies que impedem e combatem mudanças mais efetivas, já que manter tudo como está os provê de lucros milionários.

Antes do capitalismo selvagem que vivemos hoje, existiram outros sistemas e todos funcionaram à sua maneira. Por que o capitalismo consciente e o consumo consciente também não podem funcionar? Em um futuro não muito distante, os maiores e mais criativos empresários migrarão para um sistema de consumo em que o que é nocivo, supérfluo e não sustentável, não terá mais espaço como produto comercial. O mal que estamos fazendo ao planeta chegará a tal ponto, que só restará ao ser humano fazer a coisa certa. O consumo irresponsável, futuramente, será uma penalidade passível de graves sanções.

Estamos no auge da “farra” do consumo irresponsável.

Em poucas décadas, ninguém irá consumir um bem que seja descartável, sem sentir culpa ou remorso. Quando você consome algo descartável que siga a lógica da “obsolescência programada”, você acaba de contribuir para a morte lenta e gradativa do nosso planeta.

O que é obsolescência programada? É um recurso utilizado pela indústria para programar o tempo de vida de cada produto e, assim, fomentar o seu consumo. Propositalmente, os produtos são feitos para que durem pouco. Mas, daqui a 50 anos, uma geladeira será feita para durar 200 anos ou mais. O que estará em curso será a “durabilidade programada”.

A mudança na forma de consumo irá quebrar o sistema capitalista? Não, de forma alguma. O que vai acontecer é que haverá uma migração do capital para outras áreas emergentes. Por exemplo, há poucos anos, quase todo mundo tinha um guia de ruas no carro; hoje, com os aplicativos disponíveis, a indústria das “páginas amarelas” fechou as portas, dando lugar à indústria dos aplicativos. Como as mudanças ocorrem de forma lenta e progressiva, com o tempo, cria-se uma nova lógica de consumo. Caso o hábito de consumo predatório e insano não se altere a tempo, teremos que nos mudar deste planeta azul e maravilhoso. Simples assim. Talvez, infelizmente, somente quando o planeta rugir de dor, ou quando cataclismos, secas, furações e terremotos varrerem metade do planeta matando bilhões de pessoas, todos acordarão para essa causa.

O apetite voraz de certos empresários pode acabar com a vida humana neste planeta. Podemos não ter uma segunda chance.

“O homem é a mais insana das espécies. Adora um Deus invisível e mata a Natureza visível… Sem perceber que a Natureza que ele mata é este Deus invisível que ele adora.” (Hubert Reeves)

A nossa história mostra que todas as mudanças ocorrem por pressão da sociedade como um todo. Não fique aí, esperando sentado. Essa iniciativa vai ter que partir de nós, consumidores. Afinal, o poder “real” (não o inventado) sempre está nas mãos da maioria. A revolução já está em curso. Quer um exemplo? Veja a nota a seguir:

“Hamburgo, segunda maior cidade da Alemanha, proibiu a compra de cápsulas descartáveis de café nas repartições públicas, em uma medida para reduzir a quantidade de lixo que polui o meio ambiente. Entre outras medidas, também proibiu a compra de garrafas plásticas de água, produtos de limpeza à base de cloro e pratos e talheres de plástico.” (Agência Reuters, 24 de fevereiro de 2016.)

Observação: acredito que a mídia, de forma natural, irá acompanhar esse movimento, ainda que hoje ela promova exatamente o contrário, isto é, a glamourização do consumo.