O que Ayrton Senna dizia sobre a moderação no treinamento?
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As pessoas não relacionam aquilo que elas sentem com o que elas fazem. Da mesma forma, também não relacionam aquilo que sentem com o que deixam de fazer. O caso do sedentarismo é um bom exemplo, se olharmos sob essa perspectiva. A falta do movimento é o agente silencioso por trás da crise mundial de ansiedade e depressão.
As assessorias precisam dar um novo significado à sua visão do treinamento, já que a performance não pode ser o único parâmetro no treinamento de um aluno. É possível adotar uma visão mais integrada, que una realmente performance com saúde.
O Ayrton Senna já falava sobre a importância do equilíbrio no treinamento: “Nestes 10 anos de trabalho, eu tive uma oportunidade muito grande de conhecer a mim mesmo e melhorar como atleta. Uma coisa importantíssima no treinamento de qualquer pessoa, de qualquer atleta, é o fato de eu nunca ter tido uma contusão. E isso, para mim, é o ponto chave que demonstra que o Nuno tem a medida certa para trabalhar com cada pessoa. Porque cada um tem uma necessidade específica. Ano a ano eu melhorei o meu nível físico. Sem ter nunca cometido uma agressão ao meu corpo. E aí você tem uma lesão, o que é considerado normal no treinamento.”
Cada palavra dita no depoimento acima vale a pena ser escutada. Pesquise no Google “Ayrton Senna fala sobre Nuno Cobra” e assista ao vídeo completo de uma entrevista feita em 1993.
A medida certa que o Ayrton diz é simplesmente um treinamento com moderação, pensado de forma integral e que desenvolva o conceito de performance com saúde. Ou seja, que encontre um meio termo entre dois conceitos bem distintos e opostos.
Lembre-se: saúde e performance são os dois extremos do treinamento físico. Quanto mais próximos estamos do treinamento extremo para performance, menos ele se torna, realmente, benéfico à nossa saúde.
Qualquer treinador pode fazer um aluno chegar ao seu ponto máximo de exaustão e deixá-lo, praticamente, destruído após um treino. Mas não é qualquer treinador que consegue prescrever um treinamento sob medida para cada aluno, com a intensidade e o volume adequados à sua realidade. Isso requer anos de estudo e experiência prática de campo, além de um profundo respeito ao ciclo correto de stress, recuperação e adaptação do aluno. Isso é praticamente uma arte.
Como o foco é a performance, a maioria das assessorias de corrida acabam não fazendo um treinamento cardiovascular aeróbico. Para tirar a dúvida, faça um teste ergoespirométrico. Caso, durante o seu treinamento, você corra acima do seu primeiro limiar anaeróbio, oficialmente, o seu treinamento é anaeróbio (em débito de oxigênio), o que aumenta o número de radicais livres e a acidez sanguínea. Ao praticar um treinamento genuinamente aeróbico, você garante mais oxigênio em sua corrente sanguínea, o que contribui para evitar a acidez e favorece imensamente na prevenção de todas as doenças.
Na realidade, caso o seu foco seja o extremo oposto da alta performance, ou seja, você queira fazer um treinamento cardiovascular radicalmente saudável, você poderia apenas andar para o resto da sua vida, sem qualquer outra variação, e, mesmo assim, ser extremamente saudável, tanto em relação à manutenção do peso corporal, quanto à saúde do seu sistema cardiovascular. No entanto, essa é uma verdade um pouco incômoda para a indústria do fitness, embora a maioria dos médicos repitam a recomendação, até banal, aos seus pacientes, há várias décadas. Descomplicar não é algo bem-vindo no universo do consumo. O foco da indústria é o público jovem, que gosta de variação e novidade.
Segundo o Dr. Moisés Cohen, um ortopedista renomado e presidente da Sociedade Mundial de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Trauma Desportivo, em entrevista para o portal de notícias UOL, “mais da metade dos atendimentos em consultório são lesões relacionadas a sobrecarga.”
A sobrecarga é uma decorrência direta do modelo de treinamento com sofrimento.