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3 jul

É fácil bater em quem já está caído

A seleção chegou a essa Copa do mundo com um dos melhores times da competição, um esquadrão poderoso com destaques individuais brilhantes. Tivesse a história se desenrolado de outra forma, os comentaristas de plantão estariam agora elogiando o Tite por seu pulso firme e coragem em manter as suas escolhas.

Opinião todo mundo tem, depois que tudo aconteceu, é fácil apontar os culpados e analisar a situação conforme nos convém. O ser humano tem uma necessidade descomunal de buscar aprovação e admiração. Tecer comentários inteligentes e bem articulados pega bem e nos faz sentir admirados e bem avaliados por nossos pares. O que é a TV e a internet senão uma vitrine da nossa imagem projetada para o mundo?

Todo mundo quer aparecer bem na foto. Na primeira chance, os comentaristas aproveitam para extravasar seus recalques e apedrejar, de forma sádica, os ídolos que eles próprios elogiavam, euforicamente, em um passado recente. Lanço aqui um desafio interessante, ao invés desse ato covarde…., ops! digo, corajoso, convido esses narradores de conveniência, a tecerem os mesmos comentários quando esses mesmos personagens tiverem obtido êxito, ou tiverem ganhado a copa, sendo elogiados e admirados por todo mundo.

Por que o ser humano tem essa necessidade de acompanhar a “manada” e agir conforme toca a música? Esse comportamento ancestral já funcionou como uma forma de sobrevivência, atualmente nos permite ganhar respeito, dinheiro e destaque social.

Bom, mas já que o Neymar é a “bola da vez”, também vou aproveitar a deixa para analisar o porquê dessa mania de cair a toda hora. Parece um assunto besta, mas os cronistas sabem que os assuntos bestas são um portal para os melhores artigos. Primeiramente, seria interessante entender que cair é uma estratégia inteligente do nosso corpo, saber cair nos protege de lesões complexas e extremamente perigosas.

Nesse momento ninguém vai falar sobre isso, mas o Neymar é um gênio nesse quesito, a sua técnica e inteligência corporal são impressionantes. Essa técnica apurada renderia uma tese de doutorado interessante sobre biomecânica e a arte de cair, ou a arte da sobrevivência no futebol, um dos esportes mais radicais e que mais lesionam atletas.

Então, por que o Neymar caiu tanto e dramatizou, em excesso, os seus tombos nessa copa? Em outros tempos, isso até poderia render alguma vantagem para a equipe, mas, atualmente, com tantas câmeras e com o replay em tempo real, essa estratégia se transformou em um “mico” fenomenal. Todo mundo vê, em câmara lenta, a palhaçada, deixando explícito que o jogador fingiu e armou tudo descaradamente. Cair facilmente, ou fingir em excesso, se tornou, então, um vício improdutivo e inútil.

Bom, voltando à pergunta, o Neymar caiu em excesso, simplesmente, porque o seu nervosismo e equilíbrio emocional estavam fora de controle nessa copa, assim como o de muitos jogadores da nossa seleção. Mesmo após o trauma dos 7 a 1, a comissão técnica optou por não levar nenhum apoio psicológico ou algum “mental coach” para ajudar os jogadores a lidarem com a enorme pressão e tensão de uma copa do mundo.

Contamos apenas com a nossa genialidade e criatividade e nos esquecemos de fazer a lição de casa. No país do “jeitinho” e do “faz de conta”, é assim que enfrentamos profissionalmente os desafios: sem profissionalismo.

Mas, voltando ao que importa, por que estou também batendo na seleção e crucificando os culpados de sempre? O sadismo é um prazer compartilhado por todos nós? Cuidado, a tentação é grande, como dizem os católicos e evangélicos.

É comum censurarmos no outro aquilo que está em nós mesmos, mas não podemos admitir. Todos os desejos reprimidos, tabus e proibições sociais alimentam esse mecanismo. Tudo aquilo que nos incomoda em demasia no outro, é um espelho revertido que revela quem somos. Cuidado, ao ser censor, de uma forma agressiva, sem perceber, você está revelando ao mundo os seus recalques e o seu inconsciente.

Não se exponha a esse vexame público, seja tolerante. Afinal, amanhã a vítima pode ser você. Aprenda a arte da empatia, de se colocar no lugar do outro, e não apedrejá-lo. Em se tratando de ser humano, o erro é uma regra, não uma exceção.

Não adianta se excluir, estamos todos juntos nessa, somos todos imperfeitos. Lembre-se, enquanto você aponta o dedo para a pessoa que está à sua frente, a pessoa que está atrás de você está vendo todos os seus defeitos, de camarote. Não faça parte dessa fila indiana nonsense!