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16 maio

O tempo é emocional

Eu nunca me esqueço de uma observação feita por um aluno, um empresário bastante estressado que comia de forma compulsiva, era obeso e não tinha tempo sequer para treinar. Na época, ele me disse: “Nuno, eu preciso quebrar este padrão em que eu vivo, ou então, este padrão irá me quebrar.”

Se não tomarmos as rédeas da vida, em relação à forma como utilizamos o nosso tempo, seremos engolidos pelo trabalho.

Um conceito muito importante neste processo de quebra de padrões e mudança de hábitos é a “priorização”. Para ser mais exato, gostaria que você respondesse com sinceridade a seguinte questão:

Quantas vezes o seu próprio nome aparece na sua agenda? Pois é, se você não aparece em sua própria agenda, você não existe!

O primeiro passo então será “existir”.

‘Mas, como posso priorizar a mim mesmo?’ Ouço muitas pessoas me perguntando.

Criar uma agenda pessoal de cuidados essenciais é o maior investimento que você pode fazer. E eu lhe garanto que nada lhe renderá tanto! A valorização na produtividade, humor, bem-estar e disposição, chega, em certos casos, a ser de 300% ao ano ou mais.

Tudo em nossa vida depende do nosso equilíbrio pessoal:

FAMÍLIATRABALHOPROSPERIDADEOUTROS

Costumo dizer que, assim como em um avião em turbulência, primeiro coloque a máscara de oxigênio em você, para depois poder ajudar ao outro.

Colocar seu nome em sua agenda e priorizar a si mesmo, transformando este compromisso em algo sagrado, é o primeiro passo para tudo começar a acontecer.

No entanto, existem certos problemas que enfrentamos quando marcamos um compromisso com nós mesmos. Nós podemos faltar.

De certa forma, ele passa a ser visto como sendo menos importante. Como a negociação é interna, nós podemos acabar enganando e negligenciando a nós mesmos. Por exemplo: nós inventamos diversas desculpas e razões para não nos dedicarmos à atividade física.

A nossa mente – sempre esperta e ligeira – cria formas sorrateiras e maneiras eficientes de autoengano, para nos convencer que carecemos de certas qualidade e recursos ou mesmo, que dependemos de um cenário ideal. Uma situação que acaba nunca se concretizando. Desta maneira, podemos seguir tranquilos com nossos padrões habituais, o que se torna muito mais fácil e confortável para as soluções de curto prazo.

Inclusive, é exatamente isso o que a nossa mente busca o tempo todo: soluções rápidas para resolver os problemas.

Basicamente, quando o nosso foco de vida está direcionado para o trabalho e outros afazeres, a nossa mente procura eliminar os outros focos de “distração” e assim articula conceitos e teorias para enganar a si mesma.

A falta de tempo aparece como uma desculpa muito comum para a maioria das pessoas, no entanto, esta é uma péssima desculpa.

O tempo é emocional. E o que isso quer dizer? Quer dizer que sempre arranjamos tempo para as coisas que são realmente importantes. Caso o seu filho de 3 anos estivesse doente, você arranjaria algum tempo para cuidar dele, certo? E se eu lhe disser que você já está vivendo um processo lento e gradual de adoecimento, você teria tempo para cuidar de si mesmo?

A verdade é que essa desculpa do tempo denuncia algo muito preocupante.

Quer dizer que você não tem tempo para você? Quer dizer que você não existe para a sua vida? Que você não é importante? Ou talvez, você não tenha a mínima noção do que é essencial ao seu organismo, ao seu bem-estar e felicidade? Você entende a gravidade e urgência dessa questão?

Quando você finalmente entende a dimensão e alcance real da estagnação corporal, você pode despertar e adquirir consciência da importância vital do movimento em sua vida.

Quando Deus, ou a natureza, como você queira chamar, projetou o ser humano criou uma equação equilibrada e perfeita. Nós precisamos dormir e comer para nos mantermos vivos. Caso contrário, o nosso corpo sofre, reclama e vai nos notificando, enviando pequenos avisos que muitas vezes são ignorados.

Antigamente, éramos obrigados a nos movimentar para providenciar comida. E, assim, naturalmente refazíamos e alimentávamos todos os nossos processos orgânicos.

A natureza não adivinhou que o homem se tornaria um animal a parte, que ele inventaria formas de comer sem precisar se movimentar.

Caso ela tivesse previsto esta possibilidade, teria criado um processo onde sentiríamos um imenso desconforto e sofrimento físico caso parássemos de nos movimentar.

Como esta perda é muito lenta e gradativa, e o nosso cérebro é rápido e prático, arranjamos diversas maneiras de driblar esta questão.

Já ouvi muitas pessoas reclamando que chegam em casa tão fatigadas, que nem pensam em “se cansar ainda mais” através de exercícios físicos.

Na realidade, o cansaço físico e o cansaço mental podem facilmente ser confundidos um com o outro. O que dá margem ao uso deste argumento como uma desculpa razoável. Porém, o cansaço mental causado por horas seguidas de trabalho apenas extenua o nosso sistema nervoso, produzindo poucas alterações químicas em nossos músculos e no corpo. Ou seja, embora ficar sentado pareça a melhor coisa a se fazer, se você experimentar fazer um treino cardiovascular moderado, como uma longa caminhada, por exemplo, ou mesmo outros exercícios mais intensos, vai observar que ao final desta atividade estará muito mais vitalizado e revigorado.

E sabe o porquê disso? A atividade física funciona como uma catarse, restabelecendo todo o nosso sistema orgânico e mental.

No entanto, a maioria das pessoas enxergam a atividade física como um fardo, uma obrigação e um problema em suas vidas. Quando na verdade ela não é um problema, ela é a solução.

Muitos alunos reclamam que a sua vida é muito atarefada. Eles passam o dia inteiro cumprindo suas obrigações e argumentam que é difícil cumprir mais essa. Reclamam que a suas mentes já estão cheias e sobrecarregadas de tantas tarefas e obrigações. Infelizmente, essa forma de se relacionar com a atividade física é a mais comum na sociedade atual.

Nós passamos o dia todo sentados usando incessantemente a nossa mente.

Na realidade, a atividade corporal seria o antídoto perfeito para compensar e equilibrar o stress do dia a dia. Ela representa um repouso e pausa essencial para esta atividade mental sem fim, resgatando a nossa lucidez, equilíbrio e vitalidade. Eu diria até que é uma das suas maiores motivações.

A atividade corporal é o refresco, a reconexão, e pode se transformar no melhor momento do seu dia. Principalmente se ela for realizada ao ar livre de uma forma equilibrada, lúdica e prazerosa.

Existem mil desculpas e argumentos para não se mexer. Realmente, para a sua mente é muito mais confortável ficar no sofá assistindo a TV. Enquanto você não estabelecer um hábito corporal e aguçar sua consciência, reconhecendo, valorizando e escutando estas prioridades do seu próprio corpo, você vai continuar perdendo o jogo para a sua mente.

Cuidar do seu corpo torna-se uma tarefa muito ingrata, caso você não desenvolva uma relação de prazer com a atividade física. O melhor exercício não é aquele que queima mais calorias, mas aquele que você gosta de praticar. Esse sim vai dar resultado.

Jogue no lixo estes condicionamentos antigos aos quais você foi doutrinado, pensando que você precisa se exercitar apenas para colher os resultados finais desta prática, como ficar magro, musculoso, bonito e saudável. Esta é uma forma fútil e superficial de se entender a importância do movimento em sua vida. Isso, na verdade, é o que mais lhe atrapalha.

O corpo é o santo graal do autoconhecimento e do equilíbrio pessoal. O próprio cálice sagrado, não é, nada mais, do que uma simbologia do nosso próprio corpo: um recipiente que cheio de vinho (sangue) torna-se o símbolo maior da nossa potência de vida e divindade. Quando estiver cansado de pensar, desligue a mente e venha para o corpo. Este universo insondável e profundo vai te libertar. Cuidado, se você não doma sua mente ela pode escraviza-lo.

*Este é uma capitulo do livro “O músculo da alma, a chave para a sabedoria corporal”. Aos poucos, vou publicar aqui no blog os nove capítulos que melhor o representam. O livro contém 69 capítulos curtos e 49 conteúdos interativos que levam a textos, vídeos e artigos de outros convidados. Ele não precisa ser lido de forma linear, é feito de ensaios curtos sobre os mais diversos temas.