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17 maio

Vivendo na prisão da aparência

Qual modelo de beleza é compartilhado pela maioria das pessoas? Qual modelo tem realmente um poder de atração e sedução aos nossos pares?

A resposta para essa pergunta é apenas mais uma prova do quanto o consumo e a mídia nos impedem de enxergarmos a realidade e o quanto ela é artificial e fabricada.

Os modelos de beleza se tornaram artificiais e não correspondem mais ao que é natural e saudável. Não fazem mais sentido em relação à nossa herança evolutiva e ao que durante milhões de anos nos guiou na escolha de nossos pares.

Quando perguntamos à imensa maioria dos homens qual o modelo de corpo que os atrai, eles são enfáticos em realçar que preferem mulheres mais volumosas e cheias de curvas. A maioria não é atraída por mulheres que sejam muito magras ou definidas. Muito menos pelas modelos de magreza extrema que ilustram as revistas de moda. Isso soa um tanto estranho, não é?  Ao mesmo tempo, esse modelo hiper magro é o mais perseguido pela maioria das mulheres.

Da mesma forma, quando perguntamos às mulheres qual o modelo de corpo que as atrai, elas são igualmente enfáticas em afirmar: gostam de um corpo mais atlético, definido e discreto, sem um volume muscular exagerado.

Este modelo mais funcional e flexível se assemelha ao corpo de um surfista, bailarino, ou um lutador de artes marciais. A maioria não se sente atraída por corpos muito volumosos e rígidos. Por mais estranho que possa parecer, esse modelo volumoso e bombado é o mais perseguido pela maioria dos homens nas academias.

Em uma entrevista para o Dr. Drauzio Varella, o médico do comitê olímpico Brasileiro Dr. Bernardino Santi revelou que, por meio de uma pesquisa, descobriu-se que 75% das garotas entre 15 e 25 anos não gostam de rapazes muito musculosos. Ele disse: “Por paradoxal que possa parecer, o rapaz procura ter um corpo bonito e se expõe a situações de risco que, às vezes, não tem volta para conquistar garotas que não se interessam por rapazes com a musculatura excessivamente desenvolvida.”

Conversando com uma amiga durante um fim de semana na praia, tive um insight sobre o que leva as mulheres a desenvolverem essa obsessão pela magreza. Ela reclamava que precisava emagrecer bastante e eu discordei, argumentando que os homens gostam de mulheres com curvas.

No meu ponto de vista ela estava ótima, eu não entendia o porquê desta angústia sem motivo. Ela estava lendo uma revista Vogue que havia trazido junto com duas outras revistas de moda e disse: “Poxa, acho que a gente fica vendo tanto estas modelos magérrimas das revistas, que com o tempo a gente assimila mentalmente este modelo. Depois, fica difícil olhar no espelho e se achar magra.”

Na hora passei a refletir sobre esta questão. Se isso acontece inconscientemente com uma pessoa tão culta, madura e esclarecida como ela, imagine o que este modelo de beleza não pode fazer a uma adolescente. E tal modelo rigoroso de magreza e definição muscular surge de forma onipresente em todas as mídias.

Se você observar o Carnaval, verá também um outro modelo de beleza artificial. A moda das pernas extremamente volumosas e masculinas entre as mulheres.

A maioria das madrinhas de bateria acabam aderindo a esta nova ‘tendência’, e o resultado, em alguns casos, chega a ser assustador. Uma perna torneada de forma natural pode ser atraente, mas uma perna fabricada à custa de anabolizantes, pode ter o efeito contrário.

Será que estas mulheres não se dão conta de que esta moda não corresponde à realidade? De que aderiram a um modelo artificial de beleza? A fuga da realidade é um dos riscos embutidos neste estímulo a vigorexia vivido nas academias.

Em paralelo, a última moda do fitness, estimulada em todas as revistas é a tal barriga negativa. Para se atingir esse objetivo é necessário que o aluno atinja o menor percentual de gordura corporal possível. Ou seja, exige que o aluno se transforme basicamente em pele e músculos, o que vai contra todos os preceitos mais básicos da saúde.

Exige-se ainda a adoção de artifícios nocivos à saúde como fatburns e dietas extremamente pobres e restritivas durante um longo período, o que é sempre um risco. Este indivíduo, achando que está em um estado elevado de saúde e beleza, que está causando inveja, não percebe que colocou a própria vida no “fio da navalha”. Devido a sua condição corporal, caso sofra uma emergência médica, por exemplo, o risco de morte se torna extremo. Ele, simplesmente, não poderá fazer uma operação de emergência devido ao baixo índice de gordura corporal. Qualquer infecção ou virose mais forte também pode ter graves consequências.

Ter uma boa reserva de gordura é tudo o que nossa saúde pede. Estar um pouco acima do peso, de 2 ou 3 kg, seria o cenário ideal para nossa saúde, beleza e vitalidade. As mulheres, principalmente, após os 40 anos, sentem uma enorme dificuldade em perder peso. O organismo busca a qualquer custo economizar energia e armazenar gordura, já que isso irá protege-lo da osteoporose. Depois dos 40 anos, ter um baixo índice de gordura é fatal aos ossos, pele, músculos e a sua beleza, de forma geral.

Toda a nossa herança evolutiva durante milhões de anos, selecionou apenas os indivíduos que eram capazes de manter esta reserva de gordura. Ir contra isso é ir contra a nossa natureza, contra a própria vida. Até a década de 60 o modelo de beleza ainda era natural, roliço e cheio de curvas. A partir daí iniciou-se uma escalada paranoica contra a gordura. Ela se transformou em um vilão da beleza, quando na realidade o que ocorre é exatamente o contrário.

A magreza extrema voluntária vai contra saúde e beleza em todos os sentidos. Quem cai neste “conto do vigário”, acreditando nesse modelo artificial, está apenas sendo conduzido de forma cega e obediente ao que lhe impõe o mercado de consumo. Segue pela vida feito boiada, obedecendo o que lhes mandam seguir e abdicando da sua própria identidade. Esta “idiotização’ causada pelo consumo é um dos mais graves sintomas da nossa sociedade.

Pergunto-me quando nos daremos conta de que o bacana não é seguir o que está na moda. O bacana é ter identidade.

“Segundo um estudo do centro de pesquisa sobre aparência da University of West England, as meninas já manifestam descontentamento com a forma física aos 7 anos de idade. A partir daí, passam a vida em guerra com a própria aparência”. (Revista Vida Simples, n. 160)
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Outro dia fui numa festa bastante chique, estilo “high society”. Chegando lá fiquei um pouco assustado. Todas as mulheres pareciam iguais, com o cabelo loiro, comprido, alisado e perfeito. Todas usavam o mesmo tipo de roupa, bolsa e “vestiam” também o mesmo modelo de corpo, extremamente definido e malhado. Sai correndo de lá, na mesma hora.

Em um mundo onde a beleza padrão standart, uniformizada e sempre igual é seguida de forma obediente por toda a população, não serão, exatamente, as nossas diferenças e imperfeiçoes que nos tornarão pessoas únicas e interessantes? (Revista Vida Simples, n. 160)

“Enquanto estiver preocupado com o que os outros pensam sobre você, você pertence a eles. Só quando deixa de buscar a aprovação externa, você se torna dono de si mesmo”. (Neale Walsch)

Não deixe que ninguém lhe diga o que vestir, o que fazer, o que pensar.

Não se prenda ao que é superficial e aparente. Desacorrente-se destes grilhões. Chega de padrões! chega de prisões!

Qual é a sua verdadeira identidade?

Conectar-se a sua identidade é conectar-se ao seu poder.

IDENTIDADE = CRIATIVIDADE = PODER

“Quando o homem a si mesmo não encontra, nada mais encontra.

(Goethe)

*Este é uma capitulo do meu livro “O músculo da alma, a chave para a sabedoria corporal”. Aos poucos, vou publicar aqui no blog os nove capítulos que melhor o representam. O livro contém 69 capítulos curtos e 49 conteúdos interativos que levam a textos, vídeos e artigos de outros convidados. Ele não precisa ser lido de forma linear, é feito de ensaios curtos sobre os mais diversos temas.